28 setembro, 2012

Entrevista com o Monsenhor José Alves de Oliveira



“QUEM NÃO VIVE PARA SERVIR, NÃO SERVE PARA VIVER”
No último dia 23 foi realizada entrevista com monsenhor José Alves de Oliveira, homem de grande influência da cidade de Juazeiro do Norte, em comemoração ao jubileu de ouro de sacerdócio, tendo como lema “Quem não vive para servir, não serve para viver”.


INFÂNCIA
Não sei se já lhe fizeram essas perguntas, mas creio que muita gente tem a curiosidade de saber.
Como era a vida da criança José Alves de Oliveira?
Como qualquer criança comum, brincando no sítio. Em contato com a natureza, os animais, passarinhos.


O que fazia durante o dia? De que brincava?
Pião, pescar... O futebol mais no seminário. Brincar de bola de gude, a bila.

Como era seu desempenho na escola?
Modéstia parte foi muito bom, sempre fui um bom aluno. Tirava notas boas, os professores gostavam muito de mim, e eu dos colegas, muito agradável.

O que o senhor guarda de lembranças daquele tempo de criança?
Lembranças... Eu gostava muito do gado da fazenda do meu pai.

ADOLESCÊNCIA
O período da adolescência é marcado por mudanças, embora os jovens de hoje tenham atitudes diferentes dos adolescentes da sua época, como foi a sua adolescência?
Adolescência muito bonita porque eu passei no seminário.

Teve que trabalhar em roça?
Não foi bem trabalhar na roça, foi mais como esporte.

Em que ocupava a maior parte de seu tempo?
Meu pai tinha uma sapataria e eu ajudava os sapateiros a organizar os sapatos.

Com quantos anos o senhor sentiu o despertar da vocação sacerdotal?
Com 12 anos, eu estava entrando para o seminário. Passou um padre lá em casa que sempre pedia ajuda para o seminário, e perguntou se eu queria ser padre, e eu senti o despertar da  minha vocação. Depois foi um padre do seminário para a minha terra, Quitaiús.

Quem foi sua inspiração?
Padre Argemiro Rolim de Oliveira, um parente meu, um homem muito religioso, um homem santo, um homem de Deus. Me perguntou se eu queria ser padre, na hora fiquei com vergonha e não respondi. Depois eu fui refletir o chamado dele e falei para meu pai que queria ir para o seminário.

O que o senhor guarda de lembranças daquele tempo de adolescência?
Passeios do seminário, sempre teve dificuldade da água no Crato, nós íamos tomar banho na fonte do Granjeiro. Mas para sair tínhamos que tirar notas boas e ter bom comportamento dentro do seminário para poder ganhar o passeio, se não ficava de castigo.

Hoje sabemos que muitos pais sentem um choque quando um filho ou uma filha se diz chamado para a vida sacerdotal ou religiosa, na época qual foi a atitude do pai e da mãe do senhor?
Foi de muita aceitação, na época eu tinha umas vaquinhas, e eu disse para meu pai que queria ir para o seminário, mas ele me disse que a despesa era muito grande, então eu falei para ele vender minhas vacas e ele não se opôs, pelo contrário, ele as vendeu e pagou meu primeiro ano no seminário. Eu tirei o 1º lugar no quarto ano primário e a partir daí o reitor me premiou com uma bolsa de estudo até o final.
 

CAMINHADA SACERDOTAL
Como foi sua chegada ao seminário? Qual foi sua primeira impressão?
Expectativa. Chegar em um lugar que não conhecia. Nós tínhamos padrinhos, meu padrinho era um primo meu, Alexandrino, ele cuidou de mim, me zelava, ia para as filas que tinham no seminário. Tive aquela expectativa de cumprir com as normas do seminário, cuidado para não errar nada. Eu entrei no seminário do dia 15 de fevereiro 1948.

O que mais o chamou atenção no seminário?
Tanta coisa, mas de modo especial as orações, que era de manhã cedo. Tinha que despertar para tirar a preguiça. Eu achava interessante a meditação e leitura feita acerca do santo do dia.

Qual o professor que o senhor mais admirava?
Quase todos, mas o Monsenhor Pedro Rocha de Oliveira, que era o reitor, eu o admirava muito. O padre Ágio Moreira, que era professor de música. Padre Davi, que era irmão do padre Ágio, que era o professor de química e física.

Dos muitos colegas do seminário, qual o que o senhor tinha mais aproximação? Ele foi ordenado?
Eu sempre tive uma amizade geral com todo mundo, mas eu tive um amigo muito bom, o João Rocha, de Barbalha, que não se ordenou. Em certa altura ele deixou o seminário e foi para o Rio de janeiro. Outro amigo bem próximo foi o Humberto Cabral, que hoje ele é locutor na rádio educadora. Nós éramos duzentos e cinquenta seminaristas e no final ficaram apenas cinco.

Como foi seu percurso cronológico no seminário?
Um percurso normal de estudos tinha as férias, o reitor mandava uma carta, um documento, que era entregue ao pároco, de comportamento, e depois devolvia para o reitor, sigiloso, que contava como nós tínhamos passado as férias. Foram quinze anos, oito anos no seminário de Crato e sete no de Fortaleza (três de filosofia e quatro de teologia).

O que o senhor guarda de lembranças daquele tempo no seminário?
A festa de São José em Barbalha era muito bonita. Em Fortaleza a lembrança das praias, quem se comportasse tinha direito a ir tomar banho de mar.

Com quantos anos o senhor se ordenou?
Vinte e seis anos.

Quem foi o Bispo que ministrou sua ordenação?
Dom Vicente de Araújo Matos. Fui ordenado na minha terra, Quitaiús.

O que mais lhe emocionou no momento da ordenação?
Sempre um momento que nos falavam era a queda, a prostração, você nota que quando o padre cai vêm as lembranças. Estavam meu pai e minha mãe, que estava doente e se recuperou com a minha ordenação. Foi muito agradável, ela participou da missa.

Desejou ir para alguma paróquia no inicio? Qual? E por quê?
Não, eu sempre estava à disposição do bispo. Eu fui substituir meu vigário que estava muito cansado, lá em Quitaiús, Pe. Antônio de Alcântara. Depois fui nomeado para ser vigário em Juazeiro, vigário cooperador do Monsenhor Lima.

Onde foi sua primeira celebração?
Quitaiús, minha terra.

Qual foi a primeira paróquia que o senhor administrou?
Santo Antônio do Araripe. Tomei de conta também de Potengi e Campos Sales.

Quais foram seus primeiros projetos como pároco?
Criar um aspecto de pastoral, de família. Ter a paróquia como uma comunidade de irmãos. Em Araripe organizei o que hoje é chamado de infância missionária, naquele tempo chamado de cruzadinha. Eu fiz a festa da paróquia, e com o resultado deu para comprar o relógio para torre da igreja.

O que o senhor guarda como marca concreta nessa paróquia (a primeira)?
A aproximação do povo com a igreja. Naquela época o povo era bem afastado da igreja, o clima era frio, e as pessoas seguiam isso.

Antes da Paróquia do Menino Jesus de Praga, qual foi sua trajetória na Diocese de Crato e quais as dificuldades em cada uma?
Eu sempre fui um padre de não encontrar dificuldades, sempre foi agradável o trabalho. Tenho esse aspecto de abertura, compreensão. Eu nasci no concílio do Vaticano II, concílio de abertura. Minha mentalidade sempre foi muito aberta desde a época do seminário. Eu pertencia a JAC (Juventude Agrária Católica).

O senhor tem uma boa participação na Diocese de Crato, seja direta ou indiretamente enviando leigos preparados pelo senhor para desenvolver trabalhos pastorais e missionários:
Quais as atividades e em que ano o senhor colaborou diretamente na estruturação pastoral da Diocese?
Foi logo depois que me ordenei fui fazer um curso de liturgia, em São Paulo. Aí me preparei para orientar a liturgia da diocese e comecei a trabalhar em todas as paróquias. Ainda hoje a gente tem cantos que foram implantados no meu trabalho, como “O amor é um bem maior”. Foram os cantos trazidos e colocados nessa época.

A paróquia do Menino Jesus de Praga, é a menina dos seus olhos, o senhor foi o primeiro e até hoje é o único pároco.
Como foi sua vinda para cá?
Foi muito agradável. Eu estava sendo pároco em Mauriti, quando a comissão pediu ao bispo para me trazer pra cá. E foram me buscar com vários ônibus, carros, foi um negócio bonito. Dom Vicente era muito meu amigo, ele quem criou a paróquia do Novo Juazeiro para o padre José Alves.


O senhor lembra qual foi sua reação quando soube?
Foi de emoção, eu sou muito chorão. Eu chorei de emoção, fiquei muito feliz, graças a Deus. A resposta bonita do povo me querendo, e eu também querendo voltar para Juazeiro. Deram-me a casa paroquial.

Como imaginava que fosse a comunidade?
Eu achei que era como todas as outras comunidades, sempre gostei de trabalhar com o povo. Eram feitas reuniões com o grupo de leigos. Foi feita a implantação do Dízimo aqui na paróquia e serviu de exemplo para as demais. Eu sempre investi na paróquia, trouxe gente de fora, para a liturgia, teve a irmã Mirian, o Pe. José Campos de Freitas. Trouxe o arcebispo de Palmas, Dom Pedro Brito, vários músicos e liturgistas.

Como foram os trabalhos pastorais no inicio?
Muito agradável a resposta, muito boa.

Hoje o senhor sente que a sua missão pastoral aqui na paróquia e na Diocese como um todo foi muito bem cumprida?
Foi realmente realizada tanto para os leigos como para as vocações. Nós temos cinco padres da paróquia: temos o Pe. Lenilson, o Pe. Adalmiran, o Pe. Paulo Lemos, Pe. Aureliano e Pe. Arnaldo. Sendo que sou padrinho de crima de Pe. Paulo e Pe. Aureliano.

O senhor costuma dizer que tem três famílias: a Biológica, a Sacerdotal e a Comunidade. Na sua família biológica uma pessoa abdicou da vida dela para lhe servir, certamente que ela gostaria de estar conosco celebrando este grande momento, porém, é junto de Deus que ela assistirá alegremente a tudo. Estamos fala da querida Toinha.
Como foi quando ela teve a decisão de segui-lo para onde o senhor fosse?
Desde o tempo que eu decidi ir para o seminário ela me acompanhou. Ela era tão limpa que me deu um banho para ir para o seminário. Eu era menino ainda, com 12 anos, ela me preparou para o seminário. Minha roupa era quem fazia, fazia doces e bolos para que eu merendasse no seminário. Muito zelosa comigo. O sonho dela era ter uma casa. Uma pessoa altamente doada ao serviço. Também sou muito grato ao Raimundo que tem sido uma pessoa que cuida de mim. Com muito zelo, que renunciou a casamento para ficar junto como motorista, como um irmão, há 43 anos ele mora comigo.

Como era seu convívio com ela?
Convívio de fraternidade, de irmão para irmão. Ela me respeitava muito e eu também. E havia essa integração de amizade entre nós.

Ela o aconselhava?
Sim. Ela tinha maturidade, seu espírito era de maturidade. Ela me orientava.

O que mais o senhor guarda de lembranças dela?
Tudo pra mim é lembrança. Ontem mesmo eu estava olhando minha roupa, ela marcava minha roupa com três “x”, ou então meu nome, ela bordava muito bem.

Como era a vida de seus pais? Fale-nos um pouco de cada um deles.
Uma vida simples, de pessoas simples, do campo, na oração, no trabalho. Meu pai era muito amigo das pessoas, ele era negociante, ele tinha muitos afilhados. Minha mãe era uma santa, depois que ela faleceu meu pai ficou com vergonha de me dizer que estava namorando. Eu preparei os papeis e abençoei o segundo casamento de meu pai.

Duas outras pessoas que são consideradas da sua família é o Raimundo e Ceiça.
Conte-nos quando e como foi que eles também resolveram lhe seguir.
O Raimundo, há 43 anos, mora comigo. Ele é meu motorista e começou a trabalhar comigo muito novo. A Ceiça mora comigo há 30 anos, quando minha irmã morreu ela tomou de conta da casa. E Raimundo é meu economista, que faz as compras para mim.

Quantos e quais são seus irmãos?
Nós éramos oito irmãos. Mas já morreram quatro. Hoje eu tenho duas irmãs, a Santana e a Chiquinha, e meu irmão mais velho, que mora em São Paulo.

Com relação à sua família Sacerdotal, o que o senhor destaca? Quem o marcou mais?
Todos eles marcaram com um carinho especial. O Aureliano pra mim é sucesso, meu antigo coroinha. Todos foram muito bons e zelosos.

Quantos aos leigos aqui da paróquia, o que o senhor diz com relação às atividades desenvolvidas e a participação de modo geral?
Eu digo que fui premiado nessa paróquia com tantos leigos bons.

O senhor passou um período afastado para tratamento médico. Como foi passar esse tempo longe da paróquia?
Foi muito doloroso pra mim. Primeiro eu tive que me preparar para a cirurgia de ponte de safena. Eu fui pra Brasília e passei um ano lá. Embora estivesse com minha irmã, eu senti falta do meu povo.

Para finalizar, perguntamos: o senhor é um homem feliz e realizado?
Muito. Muito feliz e realizado. Um homem padre, realizado no meu sacerdócio e como pessoa humana.

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