20 março, 2020

China acusa EUA de contaminar Wuhan e abre crise diplomática

Pela primeira vez, uma alta autoridade de Pequim desconfia de que militares dos EUA espalharam novo coronavírus em território chinês. Casa Branca se irrita e convoca embaixador

A China e os EUA abriram, nesta sexta, uma crise diplomática sobre a origem da pandemia do novo coronavírus. Pela primeira vez, o Governo de Pequim acusou publicamente, sem apresentar provas, o Exército americano de ter espalhado o novo coronavírus na cidade chinesa de Wuhan, de onde a epidemia se alastrou para o mundo desde o fim do ano passado. A Casa Branca logo reagiu e convocou seu embaixador na China, em um sinal de descontentamento com a postura do país asiático.

"É possível que o Exército americano tenha sido o responsável por trazer a epidemia a Wuhan. Seja transparente! Torne públicos seus dados!", tuitou o porta-voz da diplomacia chinesa, Zhao Lijian. "Os EUA nos devem uma explicação", escreveu.

Para apoiar suas suspeitas, Zhao tuitou, nesta sexta, links para dois artigos do Global Research, um site conhecido por suas teorias da conspiração.

A favor dos EUA, há relatos científicos. O vírus responsável pela doença Covid-19 "era desconhecido antes da epidemia que começou em Wuhan (China) em dezembro de 2019", recorda a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Análises genéticas de amostras do novo coronavírus de vários países revelam uma fonte comum na China, diz Christl Donnelly, professora de epidemiologia estatística no Imperial College de Londres.

A acusação chinesa contra os EUA pode ter motivação política. "Semeando dúvidas na mente das pessoas sobre a origem do vírus, Pequim procura escapar à responsabilidade pela epidemia", diz a pesquisadora Yun Jiang, da Universidade Nacional da Austrália.

Desde o mês passado, a Rússia é apontada também como um dos países que difundem teorias de conspiração sobre a origem do vírus.

Conspiração

Milhares de contas ligadas à Rússia nas redes sociais propagam de forma coordenada desinformação contra os EUA sobre o novo coronavírus surgido na China. As contas disseminam teorias da conspiração, nas quais os EUA estariam por trás do surgimento do vírus, criado para "evitar uma guerra econômica contra a China", que seria uma arma química biológica inventada pela CIA e que isso faria parte de uma estratégia ocidental de disseminar "mensagens anti-China".

Funcionários do Departamento de Estado dos EUA encarregados de combater a desinformação russa contaram que usuários estão usando identidades falsas no Twitter, Facebook e Instagram para promover os argumentos e as conspirações russas em vários idiomas. "A intenção da Rússia é de semear a discórdia e desgastar as instituições e alianças do EUA, inclusive por meio de campanhas secretas e coercitivas de influência maligna", disse Philip Reeker, subsecretário interino de Estado para Assuntos Europeus e Euroasiáticos.

Medidas draconianas

Além da nova rixa diplomática com a China, o presidente americano Donald Trump toma medidas rígidas para mostrar controle sobre a situação.

Nesta sexta, ele decretou emergência nacional por conta do novo coronavírus. A medida, exclusiva da Casa Branca, permitirá a liberação de verbas aos estados, sem burocracia.

Serão liberados US$ 50 bilhões em fundos federais para o combate à pandemia, em rápida expansão.

Trump também anunciou a suspensão de todos os cruzeiros a partir dos portos americanos pelo prazo de 30 dias.

Aos 73 anos, o presidente americano, que esteve em contato com o secretário de Comunicação do presidente Jair Bolsonaro, Fabio Wajngarten, infectado pelo coronavírus, disse, nesta sexta, que não apresenta "nenhum dos sintomas" da doença e que "provavelmente" fará o teste em breve.

Abalos políticos

Enquanto a China registra uma redução dos casos, os EUA vivem uma realidade oposta. Pequim tenta mostrar ao mundo que foi mais eficiente no controle da pandemia do que os EUA.

A China enviou equipes médicas para a Itália, o segundo país mais afetado, e para a Espanha, destacando que seu modelo autoritário foi decisivo para deter a disseminação. Também usou a crise para atacar os EUA que, desde que Trump chegou ao poder, tenta combater a influência de Pequim em todas as áreas. Um artigo do jornal estatal chinês Global Times sugeriu que a China pode parar de exportar máscaras faciais e outros equipamentos médicos, se Washington continuar pressionando contra a expansão da gigante tecnológica Huawei.

O governo Trump, que ofereceu US$ 100 milhões em assistência em todo mundo para ajudar no combate à pandemia, tentou por sua vez associar a China ao Covid-19.

O secretário de Estado, Mike Pompeo, falou sobre o "vírus Wuhan", e o senador republicano Tom Cotton prometeu que os EUA "responsabilizarão aqueles que infligiram isto ao mundo".

Sem consultar seus aliados, Trump impôs abruptamente nesta semana uma proibição de 30 dias à maioria das viagens da Europa continental e prometeu enfrentar o "vírus estrangeiro".

Kelly Magsamen, analista do centro de estudos Center for American Progress, afirmou que a decisão de Trump apenas levantará questões sobre o papel histórico de liderança em Washington. "Muitos parceiros e aliados dizem: pode-se confiar nos EUA para liderar os principais desafios globais, seja uma pandemia ou uma mudança climática ou a não-proliferação de armas nucleares?", questiona.

"A China está tentando desviar as críticas por seu papel em iniciar uma pandemia global e não contar ao mundo", disse uma autoridade do Departamento de Estado. "A divulgação de teorias da conspiração é perigosa e ridícula. Quisemos avisar ao governo que não toleraremos isso, para o bem do povo chinês e do mundo", disse a autoridade.

Petróleo

Há ainda uma vantagem econômica para os EUA com o avanço da pandemia: a forte queda do preço do petróleo. Trump admitiu, nesta sexta, que o governo comprará petróleo aproveitando os preços baixos para levar ao máximo as reservas estratégicas do país, como medida de precaução diante da pandemia.

O governo dos EUA "comprará, a um preço muito bom, grandes quantidades de petróleo bruto" destinadas a suas reservas estratégicas, disse Trump na Casa Branca. "Vamos enchê-las até o limite".



Fontes/Diário do Nordeste

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